10 ANOS
COM ROSEMARY BROWN
Em 16 de
novembro de 2001, desencarnava silenciosamente a médium Rosemary
Brown.
A
simpática senhora de 85 anos de idade, deixou o mundo físico
discretamente, em contraponto ao seu “sucesso” em vida quando
ficou conhecida pelo intercâmbio mediúnico com espíritos de
compositores célebres de música erudita, havendo recebido deles
mais de 400 partituras. Entre esses espíritos, estavam Liszt (com o
qual tinha contato mais frequente, sendo este também o seu mentor
espiritual), Chopin, Schubert, Beethoven, Bach, Brahms, Schumann,
Debussy, Grieg, Berlioz, Rachamaninoff, Mozart, entre outros.
Rosemary
Brown, obteve destaque na mídia nos anos 70. Apareceu em programas
de TV, dentre eles um documentário para a emissora britânica BBC,
quando, diante das câmeras, recebeu mediunicamente uma partitura
inédita de Liszt de elevada dificuldade técnica: possuía seis
sustenidos na clave e compassos distintos para as mãos: 5/4 na
direita e 3/2 na esquerda. Brown afirmou que a peça era difícil
demais para ela própria executar. Um pianista profissional então se
ocupou de tocá-la. Posteriormente, a peça foi analisada por
Humphrey Searle, compositor britânico e grande estudioso de Liszt,
que ressaltou as harmonias avançadas e a tonalidade típica das
últimas composições de Liszt.
No
Brasil, contamos com a edição em português do livro Contatos
Musicais, de sua autoria, que descreve a trajetória de preparação
de sua mediunidade, das dificuldades que encontrou e de como cada
compositor se aproximava e conseguia se expressar através dela.
A
possibilidade mediúnica da Sra. Brown é descrita por Allan Kardec
em O Livro dos Médiuns.
Médiuns
músicos: executam, compõem ou escrevem músicas sob a influência
dos Espíritos. Há médiuns músicos mecânicos, semimecânicos,
intuitivos e inspirados, assim como os há para as
comunicações literárias.
[1]
A artista
plástica Elsie Dubugras escreveu o prefácio da edição do livro
Contatos Musicais. Elsie, que desencarnou em 2006, também era
jornalista e médium. Estudiosa da parapsicologia, durante trinta e
três anos foi editora especial da Revista Planeta e apresentou ao
mundo o trabalho do médium brasileiro Luiz Antônio Gaspareto. Em
seu prefácio, Elsie chama carinhosamente a Sra Brown de Chico Xavier
da música, argumentando que:
Conversa
com os grandes da música como o nosso Chico conversa com os grandes
da literatura. Como o Chico, é pessoa de origem humilde, e, como
ele, a educação que recebeu não a habilitaria jamais à
virtuosidade no teclado ou no campo da composição. Não sabe
orquestrar música para instrumentos de corda, mas recebeu de Brahms
dois quartetos de cordas. O Chico Xavier não é poeta, nem literato,
nem cientista, mas a poesia, a literatura e a ciência jorram sem
cessar de sua pena. Como o Chico, Rosemary manifestou faculdades
mediúnicas desde a mais tenra idade, via e ouvia espíritos,
comunicava-se com o outro lado da vida, tendo conhecimento de certos
fatos passados e, por vezes, do futuro. O paralelo entre esses dois
vultos da mediunidade, cada um no seu setor, é mais do que evidente,
mas não deixa de ser curioso e
digno de especial atenção.
[2]
Rosemary,
trabalhava como merendeira de uma escola pública na época em que
começou a receber as primeiras partituras. Três LPs contendo
algumas das músicas recebidas foram lançados. O primeiro foi
gravado em 1970, pelo pianista Peter Katin. O segundo saiu em 1977,
por Howard Shelley, e o último em 1988, por Leslie Howard.
A
produção de músicas mediúnicas cessou nos anos 80, mas Brown
continuou, até o fim da vida, dedicada a sua crença e indiferente a
assuntos materiais e mundanos.
Contestada
na veracidade de sua produção mediúnica, em uma Inglaterra
historicamente resistente ao conceito da reecarnação, sua
partituras dividiram opiniões surgindo algumas teorias absurdas
sobre um possível conhecimento musical que teria quando criança mas
teria sofrido de amnésia e não recordava-se desse fato, teoria
contestada pelo médico que a conhecia desde o nascimento.
Qualquer
pessoa que conheça música sabe que eu teria que ser quase um gênio
musical para ter obtido tudo isso sozinha, mas a maioria dos céticos
que desconhecem música não imaginam quanto é difícil compor.
Talvez a maior parte dos musicistas competentes, dotados do dom de
improvisação, possam tomar uma melodia qualquer e tocá-la de
forma clássica – embora mesmo isso me seja impossível, visto eu
não ser capaz de improvisar coisa alguma. Mas, compor
realmente, nos diferentes estilos dos compositores – bem, isso já
é completamente diferente.
[3]
Passados
10 anos de sua desencarnação, nos umbrais de seu décimo primeiro
aniversário, o esforço mediúnico de Rosemary Brown, em uma ação
coordenada pela espiritualidade superior, merece a atenção e o
estudo dos interessados na relação arte e espiritismo.
Edmundo Cezar
Edmundo Cezar
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[1]
– KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. de Renata Barboza da
Silva e Simone T. N. Bele da Silva. São Paulo, Ed. Petit. 2004
[2]
– BROWN, Rosemary. Contatos Musicais. Trad. de Agenor de Mello
Pegado. São Paulo, Ed. Livraria Espírita Boa Nova. 1971