Kardec vai ao Teatro



KARDEC VAI AO TEATRO

Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, faz considerações importantes sobre a interferência dos desencarnados nas apresentações artísticas, que merecem a atenção e o estudo por parte dos que atuam nas artes cênicas.

O Livro dos Médiuns, que possui o subtítulo de “Guia dos Médiuns e dos Evocadores”, resultado das observações práticas do professor Hippolyte Rivail, que o publicou em 1861 com o pseudônimo de Allan Kardec, apresenta em seu capítulo 14 uma significativa descrição da influência que os espíritos podem exercer sobre um espetáculo artístico.

Descreve o professor francês que, na companhia de um médium vidente, teve a oportunidade de assistir um espetáculo de teatro, especificamente a ópera Oberon, da autoria de Wagner, onde havia alguns lugares vazios na plateia, e que espíritos desencarnados ocupavam esses lugares vazios, parecendo ainda que alguns colocavam-se na posição de ouvirem os comentários que os membros da plateia faziam sobre a peça. Outros desencarnados, agiam de forma diferente posicionado-se entre os atores, parodiando grotescamente suas gesticulações.

Chamou a atenção de Kardec, e do médium vidente que o auxiliava, de que alguns desencarnados colocavam-se em posição de auxílio aos artistas envolvidos no espetáculo.
          (…) outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços por lhes dar  energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das principais cantoras.
 [1]
Na busca de compreender melhor como se dava o processo de influência do mundo espiritual no físico, Kardec toma a inciativa, durante o intervalo de um ato, de evocar, ali mesmo, no teatro, aquele espírito que se mantinha próximo à cantora principal, onde ele, o espírito, informa que tem a função de guia da atriz, encarregado de protegê-la e inspirá-la, e após alguns minutos de uma conversa séria, o espírito se despediu.
         
             Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que vá vigiá-la.
Kardec, em sua busca de informações, realiza a evocação de Weber, autor da peça, que já se encontrava desencarnado, onde questiona o espírito sobre o que achava ele da execução de sua obra. Weber então responde que a montagem era sem inspiração, nada má, mas fraca, surpreendendo o professor francês ao, por iniciativa própria, dirigir-se ao palco e interfirir no magnetismo dos artistas.

            Espera, acrescentou, vou tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado. Foi visto, daí a nada, no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de energia.

Nesse simples relato produzido por Kardec e registrado em O Livro dos Médiuns, é possível perceber a interferência prática que o mundo espiritual pode exercer sobre o físico, especificamente sobre uma obra artística.

No relato, observamos a presença de desencarnados, tanto na plateia como no palco, cada um agindo e reagindo conforme sua intenção, sintonizando-se ou não com os artistas e com os espectadores. O espírito amigo de uma das cantoras mostra-se atento, próximo a ela durante a apresentação, buscando claramente protegê-la do magnetismo e da influência dos espíritos zombeteiros e brincalhões do ambiente, como demonstra ainda preocupação com as ações e possibilidades de sua pupila nos bastidores da encenação.

Já o autor da ópera, evocado por Kardec, demonstra, exemplificarmente, como a proximidade e o interesse de um espírito bem intencionado, auxiliando com a doação de seus próprios fluidos, pode produzir a vitalização energética de um artista ou de um espetáculo na irradiação magnética da apresentação artística que chega à plateia, formada tanto de vivos como de mortos.

Esse ocorrido, presenciado e registrado por Kardec, com artistas que, provavelmente, desconheciam por completo a possibilidade da existência dos espíritos e da influencia deles no mundo físico, nos traz reflexões e indagações que merecem nossos estudos:

Que tipo de produção artística pode produzir a sintonia com espíritos superiores, protegendo-a e vitalizando-a com um magnetismo saudável?

Que ação prática dos artistas envolvidos atrairá espíritos brincalhões, sérios, superiores ou zombeteiros?

Os artistas que conhecem o Espiritismo, em comunhão com a espiritualidade, podem produzir uma ação cênica diferenciada?

                                                                                                      Edmundo Cezar
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 [1] – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. de Renata Barboza da Silva e Simone T. N. Bele da Silva. São Paulo, Ed. Petit. 2004
Oberon: Ópera romântica em três atos composta pelo alemão Carl Maria Weber. Sua estreia ocorreu em 1826. 
Weber: Carl Maria von Weber (1786-1826) – Conhecido pelo sobrenome Weber, um dos primeiros compositores significantes da Era Romântica. Interessado em novas sonoridades e combinações instrumentais, tornou-se um dos maiores compositores do Ocidente. Na transição do Classicismo para o Romantismo, sua obra introduziu a nova estética na Alemanha.
Evocação: É a comunicação do Espírito feita mediante o chamamento.
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3 comentários:

  1. Luis Marcio Arnaut21/5/12

    Acredito que Kardec "foi ao teatro" pela sua paixão, ignorada pelos espíritas, infelizmente, pelas artes. Em 22 de dezembro de 1845, sua única peça de cunho próprio UNE PASSION DE SALON, uma comédia, foi apresentada em Paris.
    O texto raro, em francês, pode ser encontrado aqui:
    http://espiritismohistoria.blogspot.com.br/2012/05/une-passion-de-salon-uma-paixao-de.html

    Kardec mostrou depois uma publicação muito interessante, também ignorada pelo Movimento Espírita, como formar uma biblioteca espírita. Nas indicações de Kardec, para se ter uma coleção de livros para crescer na sabedoria, amor e dignidade humana ele indica diversas publicações interessantes nas áreas da ciência, filosofia, religião e ARTES.

    Veja o que ele indica nesta área: (publicado em maio de 1869)

    GALILEU, drama em versos, pelo Sr. PONSARD. - 1 vol. in-8, 4 fr.; pelo correio, 4 fr. 50 c.
    Paris, Tresse. (Revista Espírita, abril e maio de 1867, págs. 97 e 145)
    DRAC (O), drama fantástico em três atos, pela Sra. G. SAND, representado no Vaudeville em
    1865. - Brochura in-12, 1 fr. 50 c.; pelo correio. 1 fr. 60 c. Paris, Tresse.
    Tema extraído de uma lenda provençal. Drac é um espírito protetor dos marujos. Na peça, ele encarna
    como adolescente numa família de pescadores, conservando algumas de suas atribuições de Espírito.
    Em uma cena, obriga um homem a escrever contra a vontade, como fazem os Espíritos em relação aos
    médiuns.
    ELIXIR DE CORNÉLIUS. Opereta-bufa em um ato, representada no Fantaisies Parisiennes
    em 1868. – Brochura in-12, 1 fr.; pelo correio, 1 fr. 50 c. paris Tresse.
    Intriga divertida, inteiramente fundada na idéia da reencarnação com mudança de sexo. (Revista
    Espírita, julho de 1868, pág. 215.)
    IDÉIAS DA SRA. AUBRAY (AS), comédia em quatro atos, pelo Sr. A. DUMAS FILHO,
    encenada no Ginásio em 1867. - Brochura in-12, 2 fr.; pelo correio, 2 fr. 25 c. Paris, Tresse.
    Uma das idéias da Sra. Aubray é esta: "Sim, materialmente meu esposo desapareceu deste mundo,
    mas sua alma está perto de mim; ele assiste a todas as minhas ações, comanda todos os meus
    pensamentos, tudo o que é bom; é ele que vos fala neste momento por minha boca. Está sentado ao
    meu lado: eu o vejo, ouço e sinto".
    MAXWELl, drama em quatro atos, pelo Sr. JULES BARBIER, representado no Ambigu, em
    1867. - brochura in-4, 50 c.; id., in-12, 2 fr.; pelo correio, 2 fr. 25 c. Paris, michel Lévy.
    Cenas muito verossímeis de sonambulismo magnético, provocadas pela clarividência da pessoa
    magnetizada. Verdadeira lição de magnetismo sério e uma resposta aos zombadores.

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  2. Muito interessante e oportuno este texto.

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  3. Muito interessante e oportuno este texto!

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